sábado, 1 de maio de 2010

Analgésicos e antitérmicos


Certa vez, Leonardo daVinci disse que arte é cosa mentale. Indo para além disso, eu ousaria dizer que a poesia é, para o poeta, uma cosa vitale. Porque a exemplo da própria vida, cada verso é potência, é desejo sobretudo. E o poeta é aquele que pode dançar nessa espiral da vida até o mais subterrâneo das sensibilidades, submergindo no escuro onde se circunscrevem as pulsões, é aquele vate que não vê apenas: contempla, e sabe que contemplar é se tornar a coisa mesma. Residindo assim no íntimo de cada coisa, nessa relação orgíaca com o mundo, o poeta encontra o que parece ser para os outros, novos significados para o objeto intuído, quando na verdade ele se depara é com o significado mais secreto da coisa. E ele estranha aquilo. A poesia brota então de um estranhamento, de uma inadequação, de um sentir sem saber o que é isso que se sente. E o poeta é uma criança, ele brinca com esses sentidos, ele os subverte, e nesse jogo ele acaba nos dizendo algumas verdades, que não pretendem ser verdades absolutas, e sim verdades bonitas, verdades inventadas.

E aqui, nesse número zero do Espiral, reunimos alguns desses seres esquisitos chamados poetas. Com uma pequena amostra da produção de cada um, esse fanzine mais do que exibir a força dessa criação, quer celebrar a oportunidade dessa reunião de potências, essa conjunção de poetas e essas suas verdades inventadas.



Kavita Kavita (que não é o editor, mas sempre se mete a escrever)


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